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Promessa não cumprida

Foi uma luta dura. O mundo moderno decidiu abolir o Antigo Regime. A Revolução Francesa tornou-se o símbolo máximo dessa ruptura: a insurreição contra a desigualdade, contra a tirania, contra um passado que precisava ser derrubado para que um novo mundo nascesse. Mas como aceitamos, durante tanto tempo, um regime tão injusto? Nós, homens racionais — a nova luz depois das trevas — não poderíamos criar algo melhor com nossas mentes lógicas e pensantes? Se somos humanos, como pudemos tratar outros homens como animais? Como esquecemos tantos? Unidos, acreditamos poder repensar a sociedade. Vamos lutar, vamos construir racionalmente o novo mundo. Essa era a promessa. E como não acreditar? Afinal, para que serve nosso pensamento? Para oprimir? Não! O homem racional, justamente por ser racional, deveria imaginar algo superior a esse absurdo. Esse foi o lema que deu origem à modernidade. Esses foram os frutos simbolizados pela Revolução Francesa. E eu compreendo — faz sentido. 1789 foi o iníci...
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Estudar para o Enem (Mentiras particulares e verdades públicas)

Infelizmente, a educação hoje se resume a passar no Enem, em algum vestibular ou concurso. Pelo menos essa é a realidade educacional de Brasília. E, para piorar, os índices que deveriam medir a “educação” se limitam a funcionar como um grande concurso para verificar se o aluno — ou a escola — é “boa” ou “ruim”. As escolas particulares usam suas posições no Enem ou no PAS como selo de qualidade. E os adultos, pais e líderes que definem as diretrizes do ensino pensam exatamente da mesma forma. Quando eu estava em sala, ouvi inúmeras vezes o mesmo argumento: “eles precisam fazer isso porque é assim que são as provas e os concursos.” Todos concordavam, como se fosse uma verdade absoluta. Pois bem: depois da prova, vamos deixar todos trancados na sala, sentados e imóveis, “porque é assim nos concursos”? Por que não avaliamos tudo apenas com testes padronizados, já que a lógica é essa? É isso que chamam de educação. O problema é que educação não é isso. Enquanto formamos gerações inteiras c...

Os filhos do Louco.

 Assim se resume a humanidade nascente do século XIX: Deus foi morto pela própria humanidade — pela ciência, pela razão e pela dúvida — e agora o homem precisa inventar novos valores para preencher o vazio que Ele deixou. No livro A Gaia Ciência , §125, assim Nietzsche escreve: “Não ouviram falar daquele homem louco que acendeu uma lanterna em plena manhã, correu ao mercado e gritava sem cessar: ‘Procuro Deus! Procuro Deus!’   — Como? Ele se perdeu?, disse um de nós. Riu-se o outro. — Escondeu-se? Tem medo de nós? Embarcou? Emigrou? — gritavam e riam.   O homem louco saltou no meio deles e transpassou-os com o olhar: ‘Para onde foi Deus?’, gritou. ‘ Vou lhes dizer! Nós o matamos — vocês e eu! Somos todos seus assassinos!   Mas como o fizemos? Como pudemos beber o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte inteiro? Que fizemos, quando soltamos esta terra do seu sol? Para onde ela se move agora? Para onde nos movemos nós? Para longe de todos o...

A grama é verde?

 Será realmente que existe diálogo? Será que realmente nós somos capazes de verificar, de olhos abertos e honestos, argumentos e dados? Sempre houveram debates, sempre houveram discordâncias. De Sócrates até Foucault sempre se debateu. Mas isso nunca terminou. Poderia dizer que cada um chegou a uma conclusão, mas o debate nunca se encerrou. Nesse vai e vem de discussão, o quanto eu sei? O quanto eu li? Sendo honesto, quanto mais folheio, olhando livro após livro, vejo que não li nem sei absolutamente nada. Por um lado, acho impossível ler tudo o que há — ninguém seria capaz disso. Por outro lado, mesmo quando leio, algumas vezes não entendo; outras vezes, por já ter uma concepção em minha cabeça, sou incapaz de ouvir uma tese diferente. Por um lado, escutei; por outro, fiquei surdo. Ele é mal. Eu sou bom. Ali está o bem. Ali está o erro. Lembro do discurso político da Dilma, em que ela dizia: “Essa é a luta do bem contra o mal!”. Aquele que pensa assim consegue trabalhar arg...

Dia a Dia.

  Eles vinham firmes, defendendo os trabalhadores. Apesar de eu pouco os ver no dia a dia.  De vez em quando apareciam para discursar sobre a opressão. Moravam em casas agradáveis, não pagavam aluguel e andavam em carros caros. Suas casas eram limpas, cuidadas por faxineiras e caseiros. Comiam em restaurantes e cozinhavam se quisessem por prazer ou vaidade. De vez em quando apareciam, entre os comuns.  Marcavam reuniões. (Eu, mesmo pensando na louça suja, na casa por limpar, na comida das crianças, ou ainda em subir todos os andares de escada depois de carregar as compras, ia. Era o tempo que dava.)  Esperava a fala deles...   Falavam sobre tantas coisas: datas, cronogramas, detalhes que poderiam simplesmente ser enviados por e-mail, o que pelo menos me daria tempo de sentar e esticar as pernas entre o trabalho e o banho das crianças.  Mas não, eles queriam falar com bastante detalhe sobre tal dia em que devíamos trabalhar. Eu já esperava estar por a...

Arte que desaparece.

  Escrever… Arte que desaparece. Quem, hoje em dia, lê? Escrevo para quem? Para ninguém? Para mim? Talvez para um sonho… Escrevo no mundo dos vídeos. Escrevo — trabalho longo, desgastante — num tempo curto, onde até segundos já parecem demais. Querem respostas. Eu só tenho dúvidas. Sobre a ciência: muitas. Sobre a política: descrença. E a velha fé dos meus avós — milenar, da boa Cruz do carpinteiro da Galileia — única certeza… essa, ninguém quer. Sou ignorante com orgulho. Faço parte do grupo que diz: “só sei que nada sei”. Depois de Cristo, porém, crer tornou-se maior que saber. Saber é dúvida. Saber é humildade. Somente a fé pode ser certeza. Mas hoje dizem o contrário, e seguem cegos e surdos no mundo virtual. Ninguém mais se deixa influenciar por religião. Não. Hoje nos deixamos influenciar por qualquer um. Sábio ou não. Justo ou injusto. Basta um link, basta a cara do falante, e já se transforma em fé. Enquanto pensam que minha cruz no peito ...

Idade das trevas

Cada ministro, falando em média 10 horas, usando de jargão e apontando uma série de evidências com nomes específicos, mal da tempo de procurar uma delas já se cita outra.   São 5 ministros, só de fala são 50 horas, somando as evidencias e análises rebuscadas, fora toda a questão filosófica e interpretativa do direito, enfim, quem realmente sabe o que está acontecendo? Na melhor das hipóteses eu tenho que ouvir alguém, que eu confio, mas como ter minha analise critica dos fatos? Logo é Impossível, mal dá tempo de cuidar de meus próprios afazeres quanto mais analisar colossal julgamento. A democracia jamais será esclarecida, todos dependem de interpretes. Ninguém é autoridade em todas as áreas do conhecimento. Assim, a mídia e os "influencer" são a peça chave da comunicação dessa sociedade democrática. Até aí poderia se dizer que estava tudo bem, mas esse mesmo grupo de condutores das informações se forem incapazes, ou tiverem algum fanatismo, interesse escusos, despreparo,...